Futebol na contramão!

Data da Postagem: 14/07/2011

Notícias do meio da bola dando conta de propostas milionárias formalizadas por alguns clubes brasileiros para aquisição de direitos econômicos de atletas extraclasse pelo mundo afora; leia-se, por exemplo, Corinthians e Tevez, obrigam-nos, novamente, a refletir sobre os modelos de gestão e de negócios dos clubes em nosso país.

Acabamos de enfrentar um processo desgastante e equivocado envolvendo a negociação dos contratos de patrocínio com as redes de televisão. Ao invés da convergência de interesses e a unidade dos clubes o que se viu foi a deterioração das relações e a corrida sem destino de cada um lutando pelo seu próprio umbigo. 

Perderam todos, ou melhor, quase todos. A fatia do bolo, que já era injusta, ficou cruel. Quem tem muito ganha mais, quem tem pouco ganha menos. Hoje, já está caindo a ficha para os menos atentos de que estamos rumando em velocidade de fórmula 1 para uma concentração cada vez maior de riqueza do futebol entre poucos clubes e a divisão da esmola entre os muitos restantes.

E não é só a questão da grana direta da TV. Se falarmos em veiculação de imagem nos circuitos comerciais constataremos também a completa monopolização entre os mesmos, o que resulta em outra desigualdade nefasta, na medida em que para os restantes contratos de marketing e de publicidade a regra será a mesma: ganha mais quem aparecer mais.

Vivemos num país que se prepara para uma Copa do Mundo daqui a três anos. As receitas crescem e as fontes se multiplicam. Esta seria a hora de sanear e fortalecer o futebol brasileiro, ter visão estratégica, enxergar o futuro, aprimorar conhecimentos e ter segurança suficiente para ousar com inteligência e sair do buraco.

Nossos clubes semifalidos, em que pese as desigualdades, estão começando a ter a grande oportunidade para saldar passivos, investir em infraestrutura, modernidade administrativa, política de futebol, equilíbrio orçamentário, crescimento patrimonial e projeto de governança.

Que nada, o que se vê no dia a dia é a farra irresponsável institucionalizada. Cada dirigente acha que sabe mais que o outro, que é mais esperto e que pode levar mais vantagem. As decisões não resultam de critérios, métodos, estratégias, projetos. Não existe continuidade de gestão e tampouco governança institucional.

O falso discurso de profissionalismo acoberta a incompetência e, muitas vezes, a irresponsabilidade. Vingam os velhos ditos populares da Lei de Gerson e de que dinheiro na mão é vendaval. Direções se sucedem, trocam-se os bonecos e o brinquedo não se conserta. Pior é quando ainda nos deparamos com a velha pretensão de alguns em reinaugurar o clube ou reinventar a história.

Os conselhos deliberativos dos clubes de futebol viraram via de regra nichos políticos de luta pelo poder, comprometidos entre si e não com a instituição. Aquele que se dispõe a criticar e denunciar a bandalheira, normalmente, vira alvo de ofensas covardes e constrangedoras pelas tropas de choque.

Para onde vai o futebol brasileiro? Até quando teremos essas loucuras? Quando seremos verdadeiros gestores administrando nossos clubes? Até quando teremos gestões que gastam demais e endividam os clubes para ganhar pouco e outras que só pagam dívidas sabendo que provavelmente não vão ganhar nada?

Quanto desequilíbrio e venda de ilusões! Tudo nas mãos dos homens, estes seres racionais, mas que, em se tratando de futebol, se transformam em poços de vaidade e irracionalidade.

O futebol é uma fonte inesgotável de oportunidades. Não vamos perder a passagem magistral do cavalo ençilhado.

Saudades do tempo em que se falava menos, gastava menos, trabalhava mais e conquistava mais.

Hora de acordar e sair da contramão!

Evandro Krebs
Integrante do MGV