Sócios soberanos, limpos e livres

Data da Postagem: 24/05/2011

O futebol, além de ser o esporte mais democrático e globalizado que existe, também é aquele que se confunde com a própria identidade do povo brasileiro, o país do futebol. É impressionante a diversidade de pessoas que se integram motivadas por esta grande paixão e desprovidas de preconceitos de racionalidade e classe social.
 
Com a evolução e a popularidade do cenário do futebol, reforçado pelo fenômeno das mídias sociais, consolida-se cada vez mais o poder do torcedor e de suas organizações dentro e fora de campo. Estabelece-se, então, um choque cultural entre gerações; de um lado, grupos mais conservadores, responsáveis pela construção da própria história dos clubes; enquanto de outro, grupos emergentes, revolucionários, ousados, sonhadores, extremamente críticos e ansiosos por decidir e realizar. Em jogo, então, a queda de braço pelo poder.
 
Nos países europeus, em sua grande maioria, os clubes de futebol são organizações privadas, de poder concentrado em um dono ou por um grupo de investidores acionistas. Já na América Latina, os clubes, em que pese serem organizados como associações privadas, são controlados democraticamente pelos sócios, que elegem seus diretores-gestores.
 
Com os novos tempos do futebol, seus investimentos e sua visibilidade, cada vez mais se observa o uso desta estrutura, impulsionada pela paixão, para o desenvolvimento de projetos pessoais e eleitorais públicos. Para tanto, constroem-se arranjos políticos dos mais diversos; muitos, por princípios ideológicos, outros tantos por manobras e interesses eleitoreiros.
 
Neste processo evolutivo, o futebol, inicialmente restrito às elites, transforma-se  em esporte de massa, atingindo todas as classes sociais e, fundamentalmente, a classe média dominante.
 
Dentro deste contexto, muito se discute sobre os modelos de escolha dos governantes de um clube de futebol. Os processos eleitorais dividem-se em dois modelos: eleição direta, onde os candidatos são eleitos diretamente pelo associado e, neste caso, o sócio é quem detém o poder soberano, e a eleição indireta, em que os candidatos são escolhidos pelo colégio eleitoraL, representado pelos conselhos deliberativos.
 
Este tema vem sendo debatido dentro do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense já há algum tempo, em especial, a partir da última reforma estatutária, onde se estabeleceu a chamada cláusula de barreira para eleições ao conselho de administração e conselho deliberativo do clube. Há dois anos houve uma tentativa de redução da cláusula de barreira, defendida por todos os grupos e movimentos políticos, e somente não foi alcançada em função de não ter sido obtido o quórum qualificado. E isto se explica, na medida em que a composição daquele conselho deliberativo indicava uma maioria mais conservadora e que não integrava os movimentos políticos mais identificados com as reformas propostas.
 
Nesta próxima 4ª feira, 25/05, o conselho deliberativo do Grêmio volta a examinar a proposição de redução da cláusula de barreira, atualmente, em 30%. Duas propostas serão votadas; uma que defende a manutenção de barreiras, com pequena redução para 20%, e outra que propõe eleições livres e proporcionais, sem barreiras, diretamente com o associado.
 
Os defensores da manutenção de barreiras se sustentam sob a justificativa da necessidade de um controle maior sobre o perfil de associados interessados em participar da vida política do clube. Por outro lado, aqueles que defendem as eleições proporcionais, com a extinção de barreiras, se justificam pela oportunidade de que todos os segmentos do quadro associativo sejam proporcionalmente representados e que o sócio do clube possa, livremente, escolher seus dirigentes, sem nenhum tipo de interferência, cláusula de elitização ou preconceito a qualquer título, ressalvada a integridade moral dos eventuais candidatos. Propõem, também, incorporar ao Estatuto Social, como requisito de ingresso e participação no Conselho Deliberativo e no Conselho de Administração, a denominada "Ficha Limpa", nos moldes da legislação eleitoral vigente, devidamente regulamentada, que afasta em definitivo o temor quanto à ética e os princípios de futuras lideranças representativas.
 
Nas últimas eleições, com cláusula de barreira, 49% do associado do clube ficou com representatividade Zero no conselho deliberativo e quem teve 51% dos votos colocou 100% dos conselheiros. Isto pode se repetir com cláusula de barreira de 20% e chegarmos ao absurdo de uma minoria representar a totalidade. Além disso, o risco da manipulação de candidaturas está superado com o aumento significativo do quadro social. De agora em diante, o sujeito para ser eleito tem que ter representatividade.
 
Outro aspecto importante refere-se aos movimentos políticos, tão marcados pelo associado em função das coligações eleitoreiras. A proposta sem barreiras possibilita a independência de idéias, de projetos e a aproximação por afinidades.
 
O Grêmio não pode e não deve ter medo e tampouco menosprezar seu associado sempre vigilante.
 
O Movimento Grêmio Vencedor - MGV, que integro, apoia a proposta de Sócios Soberanos, Limpos e Livres, sem barreiras - eleições proporcionais, diretamente com os sócios, conforme o desejo dos sócios.
 
Evandro Krebs
Sócio do Grêmio