Ação do MGV discute Cultura da Paz nos Estádios

Ação do MGV discute Cultura da Paz nos Estádios

Data da Postagem: 10/06/2014

 
Sob a ótica do Esporte, da Sociologia e do Direito, a temática da discriminação racial e da violência no ambiente do futebol recebeu especial atenção nesta terça-feira. Às vésperas da Copa do Mundo 2014 e atento às recentes manifestações no mundo da bola, o Movimento Grêmio Vencedor (MGV) promoveu em Porto Alegre o Seminário Cultura da Paz nos Estádios - Erradicação do Racismo e da Intolerância. O evento reuniu lideranças políticas do clube, sócios, torcedores e autoridades dos respectivos campos de atuação, com o objetivo de debater a origem das atitudes preconceituosas e, por meio das discussões, construir propostas de interferência na realidade atual. 
 
Os debates, que estenderam-se por mais de três horas e tiveram a mediação do vice-presidente Renato Moreira, foram abertos pelo sociólogo Edilson Nabarro (foto abaixo), um dos fundadores do Movimento Negro no estado. Em explanação ao público, o professor da UFRGS contextualizou sua abordagem teórica no sentido de esclarecer a diferença entre três frentes: a do preconceito racial (julgamento antecipado sobre determinado grupo), a do racismo (doutrina ou sistema de ideias que pressupõe a existência de raças superiores) e a da discriminação racial (qualquer distinção, restrição ou preferência baseada na cor, para restringir o acesso aos direitos e liberdades individuais de cada cidadão). A partir de tal distinção, Nabarro propôs-se elencar maneiras de diagnosticar tais práticas, a fim de inverter a “prática recorrente” da desvitimização, atualmente a cargo do indivíduo agredido, e não das organizações e/ou instituições a qual ele representa. 
 
Também na condição de convidado especial, o ex-jogador Tarciso revelou em depoimento que a questão racial circunda há tempos o esporte: “O racismo é muito forte, e não só de branco contra negro. Há uma dívida educacional no país”, considerou o Flecha Negra, campeão mundial pelo Grêmio em 1983 e com passagem pela Seleção Brasileira, atualmente vereador em segundo mandato na Capital gaúcha.
 
No painel “O Enfrentamento da Violência nos Estádios”, o Juiz de Direito Marco Aurélio Xavier, responsável pelo Juizado do Torcedor e designado para atuar no Mundial de seleções, trouxe relatos de sua experiência no combate in loco à intolerância: “Não existe nada no Brasil que mobilize mais o povo que o futebol. Mas isso traz alguns efeitos colaterais, como a rivalidade mal administrada, a criminalidade, a discriminação. Não podemos conceber, por exemplo, que um sujeito se volte contra outra pessoa apenas por vê-la com a camisa de outro clube”. De acordo com Xavier, a mudança de comportamento nos estádios deve atender ao método sustentado em educação, fiscalização e responsabilização: “No momento em que a paixão justifica a agressão, algo está errado, o remédio vira veneno. A cultura de paz, como bem trata este encontro, é um processo, do qual também faz parte a punição. Devemos é procurar cultivar uma consciência coletiva para atingirmos o objetivo de erradicar a violência desse ambiente”.
 
Em seguida, o procurador do Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Gaúcha de Futebol, Alberto Franco, expôs sua participação e o tratamento da entidade no Caso Márcio Chagas, árbitro vítima de discriminação racial na partida entre Esportivo e Veranópolis no último Campeonato Gaúcho: “Foi o caso mais grave do futebol gaúcho. O Márcio teve diminuída sua condição humana, sua dignidade, aquilo que é mais caro para nós. E por três vezes: na entrada em campo, na volta do intervalo e na saída do vestiário. Some-se a isso a omissão do clube. O TJD tinha de fazer história e mostrar que práticas como aquelas não são toleradas em campeonatos organizados pela federação”, destacou, ao lembrar da pena de nove pontos imposta ao Esportivo, o que resultou no rebaixamento do representante de Bento Gonçalves na elite estadual. 
 
Nabarro, finalmente, resumiu os desafios de quem se dedica a problematizar a intolerância e buscar soluções para extingui-la: “A discussão que se travou pode ser paradigmática, por ajudar na construção de normativas que minimizem os atos de violência nos estádios. Os marcos legais existem e saímos daqui com um cardápio de encaminhamentos práticos. Nossa maior tarefa é operacionalizá-los nas três pontas referidas: educação, fiscalização e responsabilização”.
 
À presença do presidente do Conselho Deliberativo do Grêmio, Milton Camargo, a organização do seminário externou sua intenção de levar adiante no âmbito gremista as iniciativas, propostas e sugestões apresentadas: “Parabenizo a todos pela realização deste evento. O assunto mostrou novamente sua relevância e penso que merece maior espaço no clube. Estamos abertos a isso. Contem conosco”, assegurou Camargo.

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